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AGUARDENTE VÍNICA DISTINGUIDA COM NOTA 19

Da zona de Alpiarça, no Tejo, chega-nos esta aguardente velha, nascida numa casa com pergaminhos e que conhece agora um renascimento, com apoio técnico de António Ventura.

A Quinta da Atela, criada pelos Condes de Ourém, tem uma história que remonta ao séc. XIV, tendo sido posteriormente doada ao Convento da Graça de Santarém. Foi, durante muito tempo, conhecida por Quinta da Goucha. Localizada em Alpiarça, a propriedade teve uma profunda reestruturação após o 25 de Abril e o período das ocupações que lhe seguiu. Mas a "nova" história da quinta começa verdadeiramente em 2017, ano em que é adquirida por Anabela Tereso e Fernando Vicente, administradores da Valgrupo. Com uma área de 580ha, é na vitivinicultura (130ha), eventos e enoturismo que se centram as suas principais actividades.

A região é conhecida pela excelência dos brancos que produz, sobretudo a partir da casta Fernão Pires. No entanto, para se fazer aguardente vínica (e que, dessa forma, resulte mais rentável) é necessário usar castas muito produtivas, que possam ultrapassar largamente as 10 toneladas por hectare. É, assim, que encontramos nesta aguardente, além da Fernão Pires, também a casta Tália (em Cognac é conhecida por Ugni Blanc, sendo aí a principal casta), Boal de Alicante e Tamarez. A vindima é sempre precoce porque não se pretende um mosto com muito álcool, antes com uma acidez elevada e baixa graduação (na casa dos 9 ou 10° de álcool provável). Ser casta produtiva é importante porque se obtém apenas um litro de aguardente por cada 10 litros de vinho destilado.

A destilação deverá ocorrer imediatamente a seguir à fermentação do mosto, sem adição de sulfuroso, cujos compostos poderiam interagir negativamente com o cobre do alambique. No caso desta aguardente, ela resulta da destilação de vinhos em alambique Charentais, típico da região de Cognac. Após este processo, a aguardente passou para meias barricas de carvalho Limousin onde permaneceu por 20 anos. A legislação não contempla um designativo de qualidade específica para uma aguardente tão velha, uma vez que a designação Very Old ou XO se aplica a destilados a partir dos 5 anos de envelhecimento em casco. Algo a rever no futuro. GE


CAPELA DA ATELA VELHÍSSIMA XO

Bonita cor, com tonalidades mogno que espelham o tempo passado em casco. Aroma muito limpo, com sugestões de frutos secos, elegante, resultando muito atraente. Na boca sente-se bem o teor alcoólico, mas está com optima textura acetinada e com final longo. Belíssima aguardente. (40%)


Texto de: João Paulo Martins

Fonte: Revista Grandes Escolhas 2023